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Mas entre todos os grupos sociais onde este tema necessita ser discutido, a igreja é onde ele é mais indispensável. Em primeiro lugar, é essencial falar sobre
as visões que se tem no meio eclesiástico sobre o tema: uma vez que atualmente o discurso de respeito às diferenças têm sido visto com muita ênfase em defesa da causa LGBT, religiões
de origem africana e outras (diferentes da cristã) nas mídias, muitos cristãos tomam como máxima isolada textos como 2Tm 3.4-6. É evidente que o texto bíblico não deve ser de forma alguma desconsiderado neste contexto já que, como pecadores que somos, estamos suscetíveis
a sermos seduzidos por nossas próprias paixões quando nos afastamos da orientação divina. Mas há erro em usar textos como este isoladamente para defender uma convicção de isolamento,
isto é, como pretexto “santo” para repudiar arbitrariamente tudo e todos que proponham este “respeito às diferenças”, desobrigando-se a falar do tema - até porque ele é
cabível não somente à religião e sexualidade, mas a diversos contextos que nos dizem respeito. Com esta atitude, cria-se uma visão simplista e negligente de que não precisamos nos
posicionar quanto a isto por tratar-se de uma ideologia mundana que tem como destino o inferno.
Esta posição é um erro porque, apesar de não pertencermos a este mundo, estamos nele, e o próprio Jesus quando orou ao Pai não pediu que fossemos
retirados ou isolados do mundo em que vivemos (Jo 17.15). Sobretudo, os jovens e adolescentes nas igrejas estão inseridos neste meio e por ele são
influenciados; a geração que está sendo formada neste tempo tem estes valores sociais na sua composição, seja o indivíduo cristão ou não. A cosmovisão cristã
irá trabalhar estes valores sociais na perspectiva bíblica, porém é necessário que a igreja aborde este tema e permita aos jovens expressar suas dúvidas e opiniões sobre ele,
a fim de buscar sabedoria na Bíblia e saber discernir o onde este discurso permite expressar o amor que vem de Deus ao próximo e onde ele oferece engano e pecado com aparência de piedade.
Os jovens e adolescentes nas igrejas estão inseridos neste meio e por ele são influenciados; a geração que está sendo formada neste tempo tem estes valores sociais na sua composição, seja o indivíduo cristão ou não.
Por outro lado, embora devamos trabalhar o amor às pessoas e, enquanto em nossa jurisdição, termos paz com todos (Rm 12.18), também há uma questão que não pode ser ignorada: o risco de distorcer ou diminuir o Evangelho de Cristo em defesa de ideais como este.
Discernir o equilíbrio pode ser difícil muitas vezes, e não poderia ser diferente pois o pecado é extremamente sutil a fim de nos enganar.
Nós que pregamos a piedade e amor podemos nos encontrar em situações capciosas entre amigos, família e outros contextos em meio à nossos semelhantes,
pois não queremos provocar contendas, guerras desnecessárias, afastar pessoas, passar uma visão negativa do Evangelho ou ser taxados de preconceituosos, homofóbicos, intolerantes ou inflexíveis.
Mas por mais que busquemos a paz e o amor, não podemos ignorar o que categoricamente afirmou a autoridade máxima da nossa fé, Jesus Cristo, em João 15.18-25. Em todo o seu ministério terreno, Jesus deixou claro que aquele que segue seus passos está assumindo o risco de ser rejeitado, injustiçado,
odiado e perseguido por causa de Seu Nome; final, se aconteceu com Ele na sociedade em que viveu, por que seria diferente com seus seguidores? Paulo sintetiza em 2Tm 3.12 que “aqueles que desejam viver piedosamente em Cristo serão perseguidos”. Nem sempre encontraremos paz e harmonia com as pessoas ao nosso redor defender
nosso “ponto de vista”, e Jesus esclarece isso com palavras muito duras em Mateus 10.16-22 / 10.32-39. Ele prediz que Seu Nome trará espada, isto é, divisão, entre famílias, não porque a Evangelho proponha confusão e brigas, mas porque o mundo não aceitará
a ideia de uma verdade absoluta em Deus. Sendo assim, devemos estar preparados para o momento do conflito, já que temos a garantia bíblica que ele estará presente em nosso ministério.
Por fim, resta saber como reagir diante de tal situação. E a chave para separar o que seria uma atitude arrogante de alguém que pensa ser dono da verdade de uma
legítima defesa do Evangelho é pura e simplesmente a humildade em Cristo. Fomos chamados a testemunhar da Salvação, cientes de que somente o Espírito Santo de Deus é quem pode convencer
do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.7-11). Uma testemunha é pura e meramente alguém que relata fielmente algo que vivenciou,
não com poder de julgar, mas como sendo parte do ocorrido e prova viva de sua veracidade. Esse é o nosso chamado: falar com humildade e fidelidade de algo que transformou e transforma nossas vidas, apontando
para o autor e consumador da nossa fé, plenamente convictos de que a verdade que pregamos não provém de nós, mas vem contra nós para nos quebrar e reconstruir (Hb 4.12).
Esse é o nosso chamado: falar com humildade e fidelidade de algo que transformou e transforma nossas vidas, apontando para o autor e consumador da nossa fé, plenamente convictos de que a verdade que pregamos não provém de nós, mas vem contra nós para nos quebrar e reconstruir.
A Bíblia não nos defende enquanto pecadores, mas nos confronta e revela o que está errado em nós, mesmo quando pensamos estar certos. Quando
nos aproximamos dela, é necessário nos desfazer de nossas convicções pessoais - cristãos ou não - e assumirmos a verdade que vem de Deus. Quando pregamos a Cristo, pregamos quem ele
é de acordo com Sua Palavra, que o revela como o Salvador único e perfeito, que fez por nós algo que nenhum outro fez: nasceu em forma humana, viveu uma vida de humildade e mansidão, morreu de forma
humilhante e ressuscitou para justificar àqueles que nada mereciam nem poderiam jamais merecer, e ainda oferecer a eternidade e criações tão falhas e frágeis (Fp 2.4-11). Ao olhar para Sua obra com clareza, não resta dúvidas de que a verdade que estamos propondo ao mundo não é absoluta porque nós
a achamos coerente, sensata ou - principalmente - porque ela defende nossas convicções. Muito pelo contrário, já que o seu propósito não é ajustar-se à lógica
dos homens, mas parecer loucura (1Co 1.18-31). Ela é verdadeira e soberana justamente porque traz vida ao quebrar nossas convicções terrenas.
O verdadeiro Evangelho não nos exalta acima das outras pessoas por acreditarmos na Bíblia, mas exalta a Cristo como Salvador e nos revela iguais a todas as outras pessoas da Terra em valor, como obras-primas
do Deus Vivo, e condição, como pecadores que carecem de Salvação.
Por fim podemos concluir que, diante das situações que podemos vivenciar por defender o Evangelho como a verdade absoluta diante da perspectiva pluralista do mundo, a Bíblia
nos oferece a certeza de que haverá, sim, difíceis conflitos onde teremos de nos opor terminantemente à opinião popular e seremos criticados (Mt 5.10-12); o mundo irá cada vez mais se tornar hostil ao Evangelho e devemos nos preparar para isso (2Tm 4.3-4); nossas palavras soarão como “loucura” às pessoas que nos ouvem (1Co 2.13-14) e, acima de tudo, somos testemunhas até a morte da transformação que vivenciamos em Jesus, pois Ele mesmo nos promete que estará conosco
nestes momentos difíceis, e que a nossa perseverança e fidelidade diante delas será recompensada por sua graça (Ap 2.10).
Este artigo faz parte de uma série de estudos inspirada no livro "O discípulo radical", de John Stott.
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