Pular para o conteúdo principal

Simplicidade: o desafio em meio à crise da pandemia


Com a crise econômica gerada pela pandemia, nossa simplicidade como estilo de vida passa por grandes provações

A simplicidade é sem dúvida um ponto importante da conduta de um discípulo de Jesus porque, afinal de contas, era uma das principais características do próprio Jesus - talvez a mais surpreendente, diante de sua glória e poder (2Co 8.9).
Em seu livro, John Stott aborda a simplicidade com foco no sentido financeiro, e propõe o conceito como o lifestyle da nossa nova vida em Cristo; este estilo de viver, embora dependa de um compromisso pessoal, é necessariamente de interesse comunitário.

Jesus declarou em Mt 6.24 que só podemos ter um Senhor: ou Deus ou o dinheiro. Essa não é uma mensagem para ricos gananciosos, mas para todos, pois a preocupação excessiva com a renda e a despesa de amanhã pode nos governar e tirar de nossos corações a soberania de Deus (Mt 6.25-33). A simplicidade implica depender de Deus e nele confiar, pois o apego às questões materiais e ao dinheiro alimentam a falsa segurança e indiferença ao sofrimento alheio.

Como vimos no último estudo sobre o cuidado com a criação, somos administradores dos recursos que Deus criou; não donos, mas meros cooperadores para o bem comum. Temos relacionamentos pré-estabelecidos com Deus, nossos semelhantes e a Terra, que se satisfazem plenamente na simplicidade em prol do próximo: nossa responsabilidade de administrar os recursos criados com justiça deve beneficiar nossos semelhantes para a glória do Deus Criador.

O exemplo prático deste estilo de vida se encontra em At 4.32-35. Neste contexto da igreja primitiva não havia gananciosos avarentos nem preocupados com o pão de amanhã e, consequentemente, nem necessitados; apenas discípulos que seguiam a simplicidade de Jesus.

A SIMPLICIDADE EM MEIO À CRISE DA PANDEMIA

Hoje vivemos uma situação preocupante em que a simplicidade em todas essas vertentes - generosidade, cuidado com o próximo, dependência e confiança em Deus - está sendo testada. As consequências econômicas que o nosso país e o mundo sofre e sofrerá devido à pandemia nos fazem refletir sobre a nossa atitude cristã em relação a Deus e às pessoas.

É certo que em meio a esta situação presenciaremos injustiças sociais, oportunismos e explorações causados pela preocupação com um amanhã incerto. As pessoas se perguntam o que acontecerá conosco se não podemos trabalhar, estudar, consumir e oferecer produtos e serviços. Não há muitas respostas tranquilizantes, só a garantia de que enfrentaremos tempos difíceis.

Teremos grandes provações pela frente para orar confiando a Deus nosso futuro; no caminho, veremos pessoas em situação mais difícil, com quem devemos repartir nossos recursos com compaixão. É um desafio manter a simplicidade em meio à crise, mas viver o discipulado de Jesus implica confiar em suas palavras de Mt 6.31-34 e prová-las em momentos como este, que mostram claramente que não temos controle sobre nada, mas que tudo está sob o controle de Deus.

Este artigo faz parte de uma série de estudos inspirada no livro "O discípulo radical", de John Stott.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Pandemia: o tempo roubado

     Estamos vivendo a realidade da Pandemia do Coronavírus no Brasil há um ano. Em 26 de fevereiro de 2020 foi confirmado o primeiro caso no país, e em 20 de março, o Ministério da Saúde reconhecia oficialmente a transmissão do vírus em todo o território nacional, a partir do que veríamos nossa vida mudar de forma brusca e atordoante.     Para muitos, o confinamento e as consequências socioeconômicas significaram a interrupção de planos, crise de carreira e empreendimentos, cancelamento de cursos universitários e, até mesmo, a suspensão do projeto familiar: em janeiro de 2021, o Brasil registrou a maior redução de natalidade de sua história.     Nessas condições, a lguns esperam que tudo se  normalize  para retomar de onde pararam; outros buscam novos caminhos para alcançar seus objetivos.  De forma geral, sentimos que  nosso tempo, vida e propósitos  nos foram  roubados,  e esse sentimento de frustração nos leva a u...

Reforma

Quantas vezes você já viu alguém usar uma “frase de Facebook” ou um ditado popular como se fosse versículo bíblico só porque parece “coisa de Deus”? Ou “jargões eclesiásticos” fora de contexto para justificar suas ações (“não julgueis, a salvação é individual!”)? Acontece que essa confusão vem muito antes do Facebook e das igrejas como conhecemos. Você já conhece a história de Israel, o rebelde povo que recebeu de Deus um passaporte para uma experiência relacional única: A promessa de libertação, redenção, prosperidade, proteção, invulnerabilidade militar e todos os benefícios mais que o relacionamento direto com o Pai pode oferecer, condicionada unicamente à sua fidelidade a Ele. Contudo, o povo falhou diversas vezes: Israel desagradava a Deus repetidamente, fazendo o pior que podia, cada vez mais oposto ao que a Lei de Moisés determinava. O rei Manassés de Judá chegou mesmo a implantar no reino já prostituído por idolatrias, feitiçarias e casamentos mistos, o sacrifício humano - e ...