Em seu estudo sobre as características de um verdadeiro discípulo, John Stott trata de um assunto muitas vezes negligenciado pelas igrejas: a responsabilidade ambiental individual dos cristãos. Este assunto não pode ser deixado de fora na vida de um discípulo de Cristo, porque desde o princípio do mundo ele está essencialmente ligado a nós, como veremos a seguir.
Temos que cuidar da criação porque estamos ligados a ela por Deus
Temos que cuidar da criação porque é a função que Deus nos delegou
Nãos somos os donos, nem a criação é dona de si. Há um só Deus sobre tudo o que foi criado, e sobre nós há uma responsabilidade especial de cooperação com Ele no cuidado do mundo, pois o nosso cuidado com a criação reflete o nosso amor pelo Criador.
Temos que cuidar da criação porque estamos ligados a ela por Deus
Ao criar o mundo, Deus estabeleceu três tipos de relacionamento fundamentais para o homem: primeiro, com o próprio Deus, como seu Criador; segundo, com seus semelhantes, pois fomos criados para a coletividade (Gn 2.18); e, terceiro, com toda a terra e seres por Deus criados (Gn 1.28-29; 2.15). No momento em que o homem pecou, estes três relacionamentos foram distorcidos: Adão desobedeceu a Deus, acusou Eva por seu pecado e, em consequência do pecado, ambos foram amaldiçoados juntamente com a terra criada (Gn 3.12 - 23).
Porém, da mesma forma que nós, redimidos por meio de Cristo, vivemos sob a promessa da eternidade, a criação têm na Bíblia a promessa de redenção, como vemos em Rm 8.18-23, e em 2Pe 3.13, onde Pedro fala sobre a promessa de "novos céus e nova terra", confirmada em Ap 21.1.
Ora, se nossa compreensão da eternidade dirige a forma como vivemos neste mundo passageiro, também nossa compreensão das coisas futuras afeta o nosso tratamento do mundo em que agora vivemos.
Temos que cuidar da criação porque é a função que Deus nos delegou
Para entendermos melhor nossa posição nessa história, temos que entender como a Bíblia a define, através de duas afirmações simples: a terra e tudo o que nela há (incluindo a humanidade) pertence a Deus, seu criador e proprietário, e, como tal, ele delegou sua administração e cuidado aos homens (Sl 24.1; Sl 115.16).
Entender isso evita dois extremos de interpretações errôneas sobre nossa posição em relação à natureza: sua deificação, atribuindo à criação a glória de divindade a quem devemos adorar; e sua exploração exaustiva, como se nós fossemos os proprietários de tudo o que existe.
Nãos somos os donos, nem a criação é dona de si. Há um só Deus sobre tudo o que foi criado, e sobre nós há uma responsabilidade especial de cooperação com Ele no cuidado do mundo, pois o nosso cuidado com a criação reflete o nosso amor pelo Criador.
Por esta razão, também, Deus institui um ponto de equilíbrio na responsabilidade humana ao instituir o sábado como dia de descanso e adoração. Aos homens ele deu a capacidade de explorar e desenvolver o potencial impressionante de sua criação, a ponto de o que começou como um cenário totalmente natural de árvores, animais, minérios e fontes de energia serem trabalhados de tal forma ao longo do tempo que gerou as máquinas e tecnologias impressionantes que hoje nos atendem; porém, é essencial à humanidade lembrar-se de sua condição como criatura limitada e dependente do Criador, de quem provém toda a sua capacidade. O descanso sabático coloca nosso trabalho em sua perspectiva correta, como adoração (1Co 1.31).
Na prática:
Entendida a essência, resta reforçar que, como cristãos, jamais devemos tratar a causa ambiental como uma opcional ou meramente "boas ações" a praticar, pois ela é nossa responsabilidade essencial de discípulos. Temas como o aquecimento global, preservação e responsabilidade ambiental devem ser trabalhados dentro das igrejas com cristãos de todas as idades. Coisas como a reciclagem do lixo doméstico, o descarte correto de lixo eletrônico e óleo de cozinha, limpeza de nossas casas dos focos de dengue, doações a ONGs e iniciativas socioambientais, optar pelo consumo de marcas ecologicamente corretas e (em tempos mais atuais) a responsabilidade de cuidar do próximo observando as medidas preventivas da pandemia do Coronavírus são um dever dos cristãos não por serem bons cidadãos, mas por obediência e amor ao Deus Criador.
Este artigo faz parte de uma série de estudos inspirada no livro "O discípulo radical", de John Stott.
Este artigo faz parte de uma série de estudos inspirada no livro "O discípulo radical", de John Stott.
Comentários
Postar um comentário