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Simpatias: isso não pertence à Bíblia

    


    Fazer simpatias é um rito que não faz parte da religião cristã, mas a falta de conhecimento bíblico misturada ao estilo de vida imediatista deste mundo faz muitos cristãos viverem uma constante “troca de favores” com Deus. Tal atitude é (além de desnecessária) perigosa, pois estabelece um tipo de relacionamento criatura-criador ilusório e superficial, oposto à realidade bíblica.

Podemos ver exemplos deste comportamento em três anelos básicos da humanidade: a paz, o amor e o dinheiro.

Vamos aqui entender “paz” como a busca por estabilidade e conforto. Você certamente já ouviu pessoas dizerem que buscam uma igreja para “se sentir bem”, ou quando desacreditadas por tempos difíceis, dizerem que já frequentaram a igreja, mas “não funcionou”. Afirmações como essas partem da ideia de que estar em dia com Deus afasta todo tipo de problema terreno, e atrai recompensas de paz e prosperidade.

No entanto, a tribulação é confirmada na Bíblia como um fator inevitável desta vida, nas palavras do próprio Senhor Jesus (Jo 16.33). De fato, não só Ele mesmo sofreu como garantiu que Seu Nome traria dificuldades para aquele que o seguir (Lc 21.12-19; Jo 15.18-25; 2Tm3.12), de modo que nosso propósito neste mundo não é buscar conforto, mas perseverar nas tribulações a serviço de Cristo.

Quando o assunto é o relacionamento amoroso, há uma má interpretação popular que transforma a pureza em moeda de troca. A preservação da virgindade antes do casamento foi disseminada como uma questão cultural de antigamente, como um indicativo de boa família, e que até hoje é associado à promessa de um casamento duradouro. Não raro vemos casos de frustração e descrédito de pessoas que que se casaram virgens e acabaram divorciadas, ou jovens que utilizam estes mesmos casos como desculpa para “aproveitar a juventude”: para que se guardar tanto para um casamento que pode acabar em divórcio ou traição? Mais uma vez, há um pensamento de custo-benefício onde Deus não é Senhor, mas investimento opcional.

A virgindade antes do casamento é uma consagração do corpo, que pertence ao Senhor (1Co 6.12-20); mas a Bíblia traz orientações essenciais para a vida conjugal que vão além contexto sexual, tratando da dimensão espiritual e interpessoal da relação (Ef 5.21-33; 1Pe3.1-7).

Quanto ao financeiro, no contexto da igreja os dízimos e ofertas são o principal expoente da ligação entre o dinheiro e a obra. Nosso ponto aqui não é o desvio conhecido como “teologia da prosperidade”, mas a intenção com que o membro da congregação devolve seus dízimos a Deus. De fato, o texto de Malaquias 3.10 promete “bençãos incontáveis” ao que devolve fielmente seus dízimos, desafiando-nos até a tirar prova da fidelidade de Deus. Mas muitos crentes traduzem esta promessa como como se Deus estivesse oferecendo um serviço de bençãos por assinatura, o que leva a pessoa a entender erroneamente que tem o direito de escolher investir ou não o seu dinheiro na igreja. Como resultado deste pensamento, a pessoa deixa de dizimar por não querer “pagar para ver” se Deus cumprirá sua promessa, ou o faz somente quando deseja receber algo em especial; em suma, mais uma avaliação de custo-benefício onde só se investe no que trará retorno.

Somos condicionados dentro de nossa cultura a buscar a funcionalidade das coisas, medindo sempre o custo-benefício de tudo. Mas o que Deus nos propõe vai na contramão deste estilo e nos confronta, porque vale mais do que nossa natureza carnal está disposta a pagar: queremos pagar por paz de espírito frequentando cultos, pagar por uma casamento com um voto de castidade, pagar por prosperidade financeira com dízimos e ofertas, mas Deus não nos vende nenhuma destas coisas, simplesmente porque ele é Senhor de tudo o que temos e somos (Jó 41.11). Não somos compradores do que Deus nos oferece, mas filhos chamados a desfrutar gratuitamente de tudo o que o Pai possui mediante o relacionamento eterno que agora temos com Ele por meio de Cristo.

Por isso a fé cheia de simpatias não serve para nós. Nosso chamado exige consagração e compromisso incondicional com aquele que é Senhor de todas as coisas, pois se ele não poupou seu Único Filho por amor de nós, e juntamente com ele nos deu todas as coisas (Rm 8.32), não há sentido em trocar seu chamado por um relacionamento raso de custo-benefício.

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