Desde os mais remotos tempos, diferentes crenças e culturas associam o ideal de pureza (física e espiritual) a restrições e ritos materiais: datas santas, alimentos proibidos, lugares restringidos e até pessoas impuras. O próprio Jesus foi impugnado pelos fariseus ao agir na contramão destas regras (Mc 2.14-28).
A Bíblia nos esclarece
que tais restrições são, por si só, tradições terrenas sem valor, e que Jesus,
o Puro Cordeiro de Deus, nos purificou de uma vez por todas, de modo que somos
livres das religiosidades. Não recebemos uma fé de podes-e-não-podes, e sim um
relacionamento construtivo com Deus (Cl 2.20-23).
Mas todo esse desprendimento tem um propósito direcionador, sem o qual a liberdade no Espírito se transforma em liberalismo. A Bíblia constantemente nos chama a atenção para esta fundamental diferença, e nos fornece orientação para discernir entre liberdade e liberalismo - aqui sintetizada em três pontos:
O CORPO:
O corpo é a materialização
do nosso eu, é o que nos permite a interação física com o mundo. Para o
que não crê, o corpo é o eu, o que leva à famosa máxima “meu
corpo, minhas regras”. Porém, muitas vezes o que crê cai no mesmo ponto ao entender
como o eu o espírito e desclassificar o corpo como algo de interesse
divino. Afinal, se Deus salva a alma e deixa o corpo, não importa o uso que
faço dele, certo?
Errado. Não pertencemos
a nós mesmos, seja em corpo ou espírito. E nosso corpo tem especial valor para
Deus, ainda que esteja destinado a perecer; ele é definido na Bíblia como templo
do Espírito Santo e membro do corpo de Cristo, de forma que não
temos o direito de pecar contra nosso próprio corpo sexualmente, pois ele tem o
propósito de glorificar a Deus (1Co 6.18-20).
A MENTE:
No aspecto abstrato, nossa mente (cujo
sentido pode ser identificado na Bíblia como coração, espírito, interior,
pensamento) tem uma função essencial neste dilema. Primeiro porque nela
habita a consciência da liberdade que temos em Cristo, e por esta consciência
somos julgados (Rm 14.22,23). Depois, porque ela é a fonte das atitudes,
seja em ação ou palavra; e essas, sim, podem nos tornar impuros (Mc 7.15).
Jesus nos ensina que o
que fazemos é reflexo do que temos guardado em nosso coração (Lc 6.45); daí
a necessidade de se selecionar o conteúdo que consumimos. E mais do que isso, a
responsabilidade de não expor a nossa mente ao que pode levar à tentação, se
conhecemos nossas fraquezas (Tg 1.14,15; Mt 5.29,30). De fato, não somos
proibidos de assistir, ler ou ouvir nada, mas se sabemos que algo não
edifica, não convém, não glorifica a Deus, sabemos que deve ser evitado por
motivo de consciência e consequência (frutos).
OS IRMÃOS:
Nem todo
aquele que é salvo em Cristo está plenamente liberto de suas regras, pois somos
diferentes em nossa criação e cultura, e temos diferentes níveis de maturidade
espiritual. Aquele que foi criado em lar protestante pode sentir-se extremamente
desconfortável ao adentrar uma igreja católica repleta de imagens; outro que
seja vegetariano pode sentir-se desconfortável em comer do que entende ser
criação de Deus como nós, enquanto um terceiro entende que o consumo de carne é
permitido livremente por Deus aos homens.
Essas não são questões fundamentais
ao cristão, mas podem ser uma grande pedra de tropeço quando usadas para afrontar.
Preservar a fé dos irmãos é mais importante do que exibir a liberdade em
questões como essas (1Co 8.1-13; Rm 14.1-23). O amor é a marca maior do
discípulo de Cristo, não o conhecimento (quando este é usado para ofender, com
referências bíblicas citadas de forma arrogante).
Por fim, nossa orientação maior para
discernir entre liberdade e liberalismo é Jesus Cristo, que se fez homem e
perfeito modelo de uma vivência totalmente livre no Espírito sem cair em
liberalismos contradizendo a Palavra de Deus ou buscando propósitos terrenos (1Jo2.6; Gl 2.20). Enquanto seguirmos seus passos e vivermos para cumprir o
propósito do Pai e não nossos próprios interesses, não cairemos em engano!
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