Não há nada mais assustador para nós do que não ter respostas. Sentir que a realidade foge das nossas projeções pode ser desesperador para alguns e, no mínimo, desconfortável para outros, porque no momento em que os acontecimentos destoam do previsto, sentimos que não temos mais o "controle" sobre o que virá.
No evangelho de Marcos vemos uma curiosa manifestação desse fenômeno. O nome e os feitos de Jesus se espalhavam, maravilhando multidões por toda parte até que, em Mc 6.1-6, logo após ressuscitar a filha de Jairo, o mestre volta para sua própria cidade e demonstra sua autoridade ensinando na sinagoga; mas desta vez, ao invés de maravilhar-se, o público se escandaliza.
Jesus não tinha dito ou feito nada "controverso" nessa ocasião, mas a sua simples realidade rompia com as perspectivas daquelas pessoas de maneira inaceitável: para elas, aquele não podia ser um homem de poder ou sabedoria elevados (muito menos o Messias!), pois ele era um carpinteiro comum e sua origem era conhecida daquela cidade. O próprio Salvador admirou-se da incredulidade delas (v.6), pois criaram uma perspectiva tão engessada que simplesmente não admitia a ação de Deus!
Aceitar o carpinteiro como Salvador significava admitir que Deus não se conforma à realidade que conhecemos. Aquele que crê abre mão de tudo o que pensava saber para aprender dele, mas para o que não crê, significa abrir mão da doce ilusão de controle que tem ao pensar que sabe como as coisas são e devem ser.
Crer implica aceitar que Deus pode fazer coisas diferentes do que esperamos, queremos ou "permitimos" que ele faça; implica aceitar que ele muitas vezes agirá de forma contrária as nossas expectativas e não nos apresentará explicações que satisfaçam a nossa sede de controle, algo desconfortável, sim, mas necessário, pois a diferença entre a insegurança do não saber e o maravilhar-se com o inesperado de Deus define em nós quem verdadeiramente é o Senhor da nossa vida, nós ou Ele.
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