Maturidade é uma questão vital do cristianismo, e precisa ser trabalhada com diligência. Infelizmente, muitas igrejas estão mais preocupadas em atrair pessoas do que em trabalhar sua maturidade, e investem grandes esforços para suavizar a experiência dentro do templo com mensagens afáveis e louvores vazios, evitando as afiadas lâminas da Palavra de Deus.
A este crescimento sem profundidade chamamos imaturidade espiritual, e muitas vezes ela se apresenta de forma mascarada: uma igreja imatura pode, sim, crescer muito e promover grandes eventos sociais e ações públicas de evangelização, mas nos momentos de crise sua doença é revelada; é nessa hora que surgem pessoas abandonando a igreja, suspendendo ofertas e dízimos e até iniciando verdadeiras facções por "incompatibilidade de opiniões".
Vemos dois exemplos dessa incompatibilidade durante o ministério de Jesus, onde a crise revelou onde havia e onde não havia maturidade:
O primeiro é Herodes, o tetrarca da Galileia. João Batista pregava sobre o inferno e a necessidade do arrependimento sem rodeios, e Herodes o ouvia com grande interesse e perplexidade; de fato, ele até mesmo o protegia, sabendo que era um homem santo. Mas quando João o acusou por seus atos, Herodes mandou prendê-lo e, depois, decapitá-lo a pedido de Herodias (Lc 3.19-20, Mc 6.14-29).
Depois disso, ele também ouviu falar de Jesus, e seu interesse reacendeu. Até que um dia Pilatos lhe envia Jesus como réu para ser interrogado, ao que Herodes reagiu com grande alegria (Lc 23.8-12). Aqui vemos a prova de sua superficialidade: tudo o que ele ouvira sobre o Salvador lhe despertou um enorme interesse, mas nenhum zelo. No momento em que Jesus diferiu de suas expectativas, ele o desprezou e rejeitou assim como fez com João Batista.
Por outro lado, havia outro homem que, como membro de destaque do sinédrio, "deveria" sustentar uma opinião contrária ao Rei dos Judeus; contudo ao ouvir sua mensagem, tomou-o como seu Salvador. José de Arimateia manteve então sua fé em segredo por medo de seus companheiros, mas um dia as circunstâncias o confrontaram: seu Messias estava sendo condenado injustamente à morte. Ele então toma uma atitude e usa sua posição para contrariar a decisão do conselho judeu, mas não pode evitar a sentença (Lc 23.50-51).
Vendo Jesus morto, era de se pensar que José renunciasse sua fé e voltasse à velha vida, mas o Evangelho produzira nele muito mais do que interesse ou simpatia. Ele então abandona toda a discrição, dirige-se corajosamente a Pilatos e pede o corpo de Jesus para sepultá-lo com a honra que merecia (Mc 15.43). Era tudo o que podia fazer.
Mas José não estava sozinho nessa ousada atitude: o fariseu Nicodemos, também uma figura de destaque entre os judeus de quem se esperaria oposição a Jesus, buscou o Cristo no meio da noite, interessado em ouvi-lo; de fato, o texto de Jo 3.1-21 não revela a decisão de Nicodemos diante da mensagem que ouviu, e (além de uma pequena menção em Jo 7.50-51) nada mais sabemos dele até este momento, quando reaparece ao lado de José para honrar o Cristo, ainda que morto.
Provavelmente, ambos ainda não compreendiam a promessa da ressurreição de Jesus, mas não se valeram de sua morte para abandoná-lo; o Evangelho produziu neles um zelo que superou seu medo pelo povo, bem como suas posições "incompatíveis" com essa fé. Foi essa profundidade que lhes permitiu, ante à crise, deixar sua postura de ouvintes para se tornar agentes, diferente de Herodes.
Assim se revelam os maduros e imaturos perante Jesus. Enquanto o único trabalho do crente for ouvir os sermões, a imaturidade se esconderá no conforto da inércia. É necessário que venham as crises, as provações, os desafios que confrontem o coração que recebe a mensagem; nesta hora se revelará o que é zelo pela Palavra de Deus e o que não passa de um simples interesse.
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