Jesus é descrito como um "homem de dores" em Isaías 53, e sua experiência no sofrimento é reafirmada em Hebreus (Hb 2.14-18, Hb 4.14-15). Porém, ao meditar nessas passagens, tendemos a dar maior relevância à sua dor física do que à dor emocional em seu ministério.
De fato, mesmo o conhecimento e consonância com plano de Deus e a garantia de sua ressurreição não diminuíram, em sua dimensão humana, a dor emocional de seu sacrifício. Pelo contrário, a experiência da cruz o fez experimentar uma tortura crescente. No Getsêmani, em seu sentimento de pavor e angústia, confidenciou a seus amigos mais próximos ter a alma tomada de uma tristeza mortal (Mc 14.33,34), diante da qual prostrou-se em terra e fez o que qualquer homem temente a Deus faria: suplicou ao Pai que lhe poupasse aquele sofrimento. Orou cada vez mais intensamente a ponto de sua agonia provocar-lhe uma hematidrose (Lc 22.41-44).
Nesse momento de tanto sofrimento, Jesus experimentou ainda a sensação de abandono: seus amigos a quem ele profetizou diretamente o que lhe haveria de acontecer, a quem levou consigo para o momento íntimo de preparação espiritual e lhes confessou seus mais profundos sentimentos de medo e tristeza, achou-os dormindo por três vezes; não puderam lhe apoiar nem por uma hora sequer (Mc 14.37-41)! Mais difícil ainda foi clamar ao Pai e receber uma resposta negativa. O anjo enviado para lhe confortar era também a confirmação de que teria de passar pela dor, a qual ele aceitou em submissão, mas também em angústia (Jo 18.11). Por fim, diante da traição, seus discípulos não o defenderam como prometido (Mc 14.27-31), mas lhe viraram as costas e fugiram, deixando-o só, entregue ao ódio dos homens (Mc 14.50).
Daquela hora em diante, ele sofreria injustiças (Mt 26.59-66), rejeição (Mt 27.20-22), agressões(Mt 26:67,68), humilhações ( Mt 27.27-30, Mt 27.38-44) e morte. Tal era a carga emocional que suportava naquela hora, que clamou ao Pai expondo seu sentimento de extremo abandono: "por quê me desamparaste?" (Mt 27.46).
Assim deveria ser para que se cumprisse a nossa salvação. É errôneo pensar que o Pai manteve-se insensível ao Filho, pois o próprio Jesus afirmou que ele e o Pai eram um (Jo 17.20-23). O sofrimento era o caminho necessário naquela hora e o é muitas vezes em nossa vida, mas Deus se compadece de nós. Assim como o Filho foi ressurreto e glorificado pelo Pai, e elevado acima de todo nome (Fp 2.5-11), o sofrimento permitido por Deus tem propósito e compensação eternos.
Por fim, Jesus se põe ao nosso lado como um profundo conhecedor da dor e do sofrimento em todas as suas dimensões, e nos anima a prosseguir segundo sua própria experiência: "Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo." (Jo 16.33).
Através de seu sofrimento podemos agora ver o limite de nossas dores. Podemos crer por meio de Jesus que elas não são maiores que o nosso Salvador. Temos paz nele (Fp 4.6-7)!
Comentários
Postar um comentário