Pensando nisso, comecei esta série de artigos a fim de avaliar e recomendar livros que me ajudaram a crescer no conhecimento de Deus e, creio, podem alimentar em outras pessoas o interesse pelas profundas riquezas do conhecimento de Cristo.
Para inaugurar, então, esta série, escolhi um de meus livros favoritos: O Discípulo Radical, de John Stott.
Este livro de 2010 foi o último deste grande autor cristão no auge de seus 88 anos. John Stott, britânico, falecido em 2011, foi pastor emérito da All Souls Church, em Londres, e fundador do London Institute for Contemporary Christianity, além de um mundialmente conhecido escritor, teólogo e evangelista. Em seu livro Por que sou cristão (2003) ele testemunha que sua jornada com Cristo nasceu de um sentimento de alienação na juventude, onde suas expectativas sobre si mesmo destoavam de seu real comprometimento, e se descreve na época como "uma pessoa com altos ideais, mas sem a mínima disposição de alcançá-los" - um sentimento familiar a muitos crentes.
Como fruto dessa história, vemos em O Discípulo Radical um caminho prático para transformar o sentimento de ineficiência em uma atitude de compromisso com Jesus. John Stott nos convida a refletir sobre o discipulado radical utilizando a Parábola do Semeador (Mt 13.3-23): "a diferença entre as sementes está no tipo de solo que as recebeu. A respeito da semente semeada em solo rochoso, Jesus diz: 'Não tinha raiz'". A estes se direciona a repreensão de Jesus: "Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?" (Lc 6.46).
A partir disso, o autor sintetiza o modelo de discipulado incondicional em oito características, exploradas de forma profunda, porém objetiva:
Inconformismo: o discípulo não deve fugir do mundo para preservar sua santidade, nem sacrificá-la tomando a forma dele;
Semelhança com Cristo: Este capítulo apresenta Jesus como o modelo a ser seguido, observando seu exemplo em diferentes aspectos;
Maturidade: uma visão sobre o problema do crescimento sem profundidade na igreja. Penso que este aspecto é, talvez, o que mais diferencia o discípulo radical da "semente sem raiz", pois se baseia, segundo o autor, numa visão clara e verdadeira do Jesus bíblico, a qual só pode ter aquele que conhece o mestre de perto;
Cuidado com a criação: este capítulo é particularmente interessante, pois, através de fundamentação Bíblica, traz à tona a responsabilidade cristã sobre a questão ambiental, tema tão negligenciado nas igrejas;
Simplicidade: é o estilo de vida que deve ser adotado pelo discípulo, contudo, não por motivos individualistas, mas direcionado para a responsabilidade social e serviço do próximo;
Equilíbrio: aqui, o conceito de identidade é usado para direcionar nossa conduta de forma coerente e equilibrada, através de uma análise perspicaz de 1Pe 2.1-17, traçando uma ligação entre as metáforas utilizadas no texto para definir os cristãos;
Dependência: o caminho mais natural quando se fala em dependência no discipulado é pensarmos na nossa dependência com relação a Deus, mas John Stott vai além, enfatizando a nossa dependência uns dos outros, numa perspectiva humilde e humana;
Morte: O último aspecto do discipulado tratado no livro explora a ligação bíblica entre os conceitos de morte e vida (eterna), sendo a morte o caminho para a vida, tanto no sentido físico (onde entra a questão da perseguição e martírio) como no sentido espiritual, isto é, a morte do velho homem.
O Discípulo Radical é um livro de leitura objetiva e fluida, porém profunda e pregnante. É acessível a qualquer nível de conhecimento: compreensível e edificante para os novos na fé, e um ampliador de visão essencial para os "veteranos". A explanação de John Stott conquista a atenção e alcança o entendimento do leitor por sua simplicidade e solidez. É um livro curto para ser lido, relido, aplicado e ensinado. Uma leitura indispensável para qualquer pessoa que recebe o chamado de Jesus!
Boa leitura!
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Nota: há algum tempo fiz uma série de estudos presenciais baseado neste livro, cujas aulas foram convertidas em artigos que você pode acessar aqui.
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