Em sua oração sacerdotal, Jesus enfatiza que os salvos em seu nome não pertencem a este mundo, da mesma maneira que ele também não pertencia (Jo 17.15,16). Essa declaração aponta para duas verdades essenciais: nossa vida aqui é passageira e (portanto) nossas prioridades não devem ser as coisas terrenas, mas as eternas.
Mas se ainda devemos viver esta realidade até a vinda de Cristo, como, então, podemos ter prioridades eternas aqui, no dia a dia deste mundo, em meio às nossas obrigações sociais e planos de vida, sem falar na Pandemia?
Esta questão já foi mais presente entre jovens em idade universitária, que buscavam encontrar na carreira as realizações de toda uma vida, além dos relacionamentos amorosos que carregavam os sonhos de formar uma família; hoje, no entanto, as pessoas buscam por realizações pessoais no amor, na carreira e nos estudos mais cedo e por muito mais tempo; nãos há uma idade para se parar de fazer planos, e isso é algo muito positivo.
Mas é também inegável que nossos sonhos estão sempre sujeitos a frustrações, a exemplo da Pandemia, que alterou os planos de toda uma geração de forma drástica: inúmeras pessoas perderam seus empregos, empresas, famílias, abandonaram a faculdade ou tiveram sua saúde (física ou emocional) afetadas, e o impacto desta frustração de expectativas é muitas vezes devastador.
Diante disso, vejo na declaração de Jesus um consolo para a alma, uma verdade que só ele nos permite aceitar e amadurecer em nossos corações pela ação de seu Espírito, para combater o sentimento de frustração e ansiedade.
Não devemos abandonar os nossos sonhos, mas consagrá-los
Ainda que nossos projetos profissionais falhem, não devemos deixar de investir em nossos dons e habilidades, pois o mesmo Deus que os concedeu deseja honrá-los em seus próprios propósitos (independentemente de diploma ou currículo!).
Um exemplo curioso está em Ex 31.1-6. O artesão Bezalel foi escolhido por Deus para coordenar a grande obra de seu tabernáculo, um projeto complexo e com altíssimos padrões de excelência, quando o povo estava peregrinando sem pátria pelo deserto. O próprio Senhor o recomendou a Moisés, capacitou-o com seu Espírito, proveu-lhe uma equipe de trabalhadores igualmente capacitados e materiais mais que suficientes para realizar seu trabalho com maestria (Ex 36.1-7)!
Nossos objetivos não devem estar nas realizações pessoais (terrenas), mas na glória de Deus
Qual é a razão maior dos seus esforços? Muitos almejam riqueza, bens, estabilidade, conforto, mais tempo de lazer, desfrutar da família, influenciar pessoas, viajar etc., mas os bens desta vida estão destinados a perecer e, por isso, não podem trazer satisfação permanente nem resistir a todo tipo de intempérie (1Jo 2.17). Logo, depositar toda a nossa esperança em algo assim é, no mínimo, imprudente.
Uma vez que não pertencemos a este mundo, não devemos pôr nas coisas terrenas o nosso coração. Isso não significa, contudo, que devemos nos desapegar a ponto de deixar de lado a diligência. Pelo contrário: nosso objetivo maior deve ser glorificar a Deus, portanto devemos fazer tudo como se o fizéssemos diretamente para o Senhor e esperar dele os benefícios (Cl 3.23,24).
Nossos planos não devem gerar preocupação ou desespero
Vivemos pelo poder de Deus, dependendo de sua abundante graça, e não das inconstâncias desta vida. O sermão de Jesus em Mt 6.25-34 é um tanto desafiador, pois no momento em que as circunstâncias bloqueiam o caminho que tínhamos definido para o futuro, a ansiedade ataca. Contudo, se entendemos que estamos aqui pela vontade de Deus sabemos que ele mesmo nos sustenta para seu justo propósito, independente das circunstâncias. A expectativa que se apoia na nossa própria capacidade está fadada à instabilidade e incerteza, mas aquele que espera no Deus Eterno não teme as reviravoltas deste mundo; afinal, seja a vida ou a morte, tudo em nós é para a glória de dele (Fp 1.20,21).
Que Deus nos capacite a enxergar a eternidade em meio às circunstâncias desta vida!
Comentários
Postar um comentário