Momentos de sofrimento e preocupação muitas vezes limitam a nossa percepção em relação ao outro. Pode parecer natural, compreensível e até justo nos colocarmos em primeiro lugar quando enfrentamos problemas (ou a pretexto de evitá-los), mas o nosso chamado em Cristo propõe um desafio que vai na contramão deste pensamento: manter um coração sensível, ainda que machucado.
Dentro dos Evangelhos podemos ver expressões desta atitude tão admirável quando tantas vezes, apesar de suas dores, Jesus enxergou as necessidades das pessoas ao redor em seu ministério. Mais do que suas ações, os textos ressaltam seus sentimentos ao longo do caminho para a cruz: ele encheu-se de compaixão diante da súplica do leproso (Mc 1.40-41), assim como pela multidão que o perseguia dia e noite, embora estivesse cansado e com fome (Mc 6.31-34; Mc 3.20-21). Também não deixou de comover-se pelo falecido Lázaro e chorar com suas irmãs, ainda que declaradamente estivesse ali para ressuscitá-lo (Jo 11.33-44), e noutra situação, entristeceu-se profundamente pela insensibilidade dos fariseus pelo povo (Mc 3.4-5).
O Evangelho de João registra nos capítulos 13 a 17 a sensibilidade do Mestre por seus discípulos nas últimas horas que passou em sua companhia, às vésperas da cruz (Jo 13.1). Neste momento de apreensão e angústia crescentes, ele demonstra seu grande amor chamando-os "amigos" (15.13-15), lavando-lhes os pés (13.4,5), encorajando-os para o futuro (16.33), ensinando-lhes o seu amor e a sua paz (15.12; 14.27), prometendo-lhes consolação pelo Espírito Santo (14.16,17), Vida Eterna e a conversão de suas tristezas em alegria (16.22). Ao final, como nosso Sumo Sacerdote, ele ora ao Pai intercedendo por seus discípulos (17.9) e por todos os aqueles que viriam a crer nele (17.20) - ou seja, eu e você.
Depois de preso, abandonado, injustiçado e crucificado, no auge de sua humilhação e dor, ainda lhe sobra sensibilidade para perdoar o ladrão crucificado a seu lado (Lc 23.42,43) e seus algozes (Lc 23.33,34).
O seu chamado é para que amemos aos nossos irmãos como ele nos amou, e de maneira nenhuma podemos fazer isso desligados dele (Jo 15.4); essa é de fato a marca que identifica seus discípulos (Jo 13.34,35).
Aprendamos com Jesus a abraçar as pessoas em suas fraquezas, apesar das nossas!
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