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Por que ler "O Deus que eu não entendo"



     "'Pois os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, nem os seus caminhos são os meus caminhos', declara o Senhor. 'Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos e os meus pensamentos mais altos do que os seus pensamentos.'" (Is 55:8,9).

    Crer em Deus e amá-lo de todo o coração, alma e entendimento não significa que possamos compreendê-lo em todos os seus caminhos. A própria Bíblia por vezes expõe a inquietude humana diante desta limitação. Os Salmos clamam repetidamente "por quê?" e "até quando, Senhor?"; e Salomão conclui: "Ninguém é capaz de entender o que se faz debaixo do sol. Por mais que se esforce para descobrir o sentido das coisas, o homem não o encontrará." (Ec 8.16,17).

    Não é fácil aceitar que não receberemos todas as respostas, ainda mais nos momentos de sofrimento, e a falta de uma abordagem honesta sobre este assunto pode trazer frustração e esmorecimento. Nesse sentido, Christopher Wright se propõe ousadamente a discutir, na medida do possível, sobre algumas dessas questões desafiadoras e pouco claras da fé cristã, de maneira honesta, fiel e humilde.

    Christopher J. H. Wright nasceu em 1947 na Irlanda do Norte. Filho de pais missionários, é doutor em ética econômica do Antigo Testamento pela Universidade de Cambridge e Diretor Internacional da Langham Partnership International desde 2001, sucedendo o fundador John Stott.

    Seu livro O Deus que eu não entendo, de 2011, começa abrindo um espaço acolhedor e seguro para o leitor questionar o que não entende, através de uma explanação bíblica abrangente de diversas passagens nas quais o homem mortal protesta diante do Senhor pelo que não pode compreender do seu agir, e as emoções conflitantes geradas a partir disso; uma vez legitimado o nosso direito de perguntar, o autor explora em quatro partes algumas questões complexas da fé:

O problema do mal e do sofrimento

    Sem rodeios, ele começa pela principal questão da humanidade em relação a Deus, indo desde o conflito filosófico da existência do mal em relação à onipotência e bondade divinas, passando pelo diagnóstico bíblico para o tema e sua posição em relação à toda a história da criação de Deus. Sua visão para a questão prática do sofrimento e das respostas mais comuns a ela dadas são uma reflexão intrigante.

Os cananeus

    O segundo conflito tratado é a desconfortável imagem do "Deus Vingativo" que permeia o Antigo Testamento, em aparente contradição ao Salvador manso e humilde dos Evangelhos. O texto identifica os problemas de interpretações populares, a fim de expor a questão com transparência, antes de se aprofundar em uma visão mais honesta e fundamentada nas bases bíblicas.

A cruz

    Passando das duras questões do princípio das coisas para as maravilhas da Salvação, o autor discorre sobre o Sacrifício de Jesus em vários aspectos (aprofundando uma reflexão que muitos cristão sequer percebem como conflitante) e suas implicações práticas e teóricas.

O fim do mundo

    A última parte do livro contempla uma cuidadosa análise escatológica da Bíblia, levantando assuntos que, popularmente, carregam muitas confusões interpretativas e uma imagem mística que chega mesmo a assustar alguns. A visão do autor é, desde o princípio, humilde e sincera sobre o quanto (ou quão pouco) podemos saber agora sobre o fim, e o que podemos esperar, biblicamente.


    O Deus que eu não entendo é um raciocínio dialético de fácil acompanhamento para leitores que já desfrutam de algum conhecimento bíblico e vivência cristã, embora trate de temas acessíveis a diversos níveis de maturidade.

    A humildade e sinceridade com que o livro aborda questões difíceis é um tanto reconfortante e encorajadora, um incentivo para encarar temas que muitas vezes evitamos por não saber como tratar, e um direcionamento valioso para fazê-lo. Embora se tratem de "questões sem resposta" da fé, a reflexão promovida redireciona as dúvidas do leitor para os fundamentos bíblicos, desfazendo confusões interpretativas e trazendo esperança em meio à falta de respostas.

Boa leitura!

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