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Como lidar com o que não entendemos?



Nem sempre entendemos como Deus age ou por quê. Muitas vezes somos tomados de frustração pelos acontecimentos ou temos dúvidas diante do que lemos em sua Palavra. De fato, não é nossa competência compreender tudo sobre ele, mas somente o que nos foi revelado. Há coisas que de fato não entenderemos nesta vida.

Vemos uma situação assim no Salmo 73, onde Asafe, mestre de canto de Israel, reflete sobre o mal e a perversão que vê no meio de seu povo, e como tudo na vida parece mais fácil e vantajoso para os maus do que para os bons e tementes a Deus.

Sua busca por entendimento começa ancorada naquilo que pode comprovar, por experiência pessoal, das verdades eternas: "Certamente Deus é bom para Israel, para os puros de coração." O que vemos a seguir é uma descrição crua do que o salmista enxerga ao seu redor quanto à vida dos corruptos, seguido de uma conclusão negativa, porém sincera: "Certamente foi-me inútil manter puro o coração e lavar as mãos na inocência, pois o dia inteiro sou afligido, e todas as manhãs sou castigado." (v.13,14). 

Nós, cristãos, muitas vezes sentimos a mesma frustração de Asafe. De fato, tão legítimo é este sentimento, que após ter chegado a algum esclarecimento, ele não apaga o que escreveu (assim como muitos outros salmos que registram semelhante revolta), mas acrescenta a ele uma observação que somente alguém que foi adotado pelo Espírito pode conceber.

Depois de dar vazão a seu sentimento de injustiça, ele deixa de olhar para fora e passa a observar o caminhos que seu coração percorreu para chegar àquela conclusão. Nos versos 2 e 3, ele declara que sua descrição do que vê é fruto de uma visão terrena, pois direcionou seus olhos para as coisas do mundo, o que gerou em seu coração o pecado da inveja.

Essa luz sobre seus próprios sentimentos o permitem perceber que não tinha conhecimento suficiente para interpretar o que via, e que precisava buscar sensatez antes de opinar pois, do contrário, levaria Israel a pecar (v. 15-17). Reconhecendo, então, sua limitação, ele busca no Senhor uma visão agora espiritual sobre o que vê; só então, Asafe enxerga com os olhos do Espírito as coisas eternas (1Co 2.14-16), e admite que o pecado em seu coração limitava seu entendimento: "Quando o meu coração estava amargurado e no íntimo eu sentia inveja, agi como insensato e ignorante; minha atitude para contigo era a de um animal irracional." (v. 21,22).

Ao final do salmo, Asafe reconhece que, como homem mortal, continuará suscetível a tais sentimentos e limitações, mas percebe que o Senhor o acompanha neste hora para o fortalecer: "O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força do meu coração e a minha herança para sempre." (v. 26). Assim também nós teremos dúvidas e frustrações diante do que vemos, mas aquele que volta seus olhos para as coisas eternas encontrará consolo, esperança e paz no Senhor mesmo em meio às limitações.

 

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